Quando você percebe, os olhos já
não estão mais cheios de lágrimas apenas... Lacrimejam incessantemente como
gotas de orvalho amargo pelas curvas de um rosto entristecido..., cuja figura
se modifica por uma metamorfose provocada em função da saudade, em função da tristeza,
em função da solidão e pela necessidade insana de tentar alinhar a perda e a
vontade de continuar...
Muitas vezes, é possível enxergar
em um olhar, a saudade e o aperto por ela provocados, em uma pessoa cujo
infinito carinho se estende a plenitude da vida... De um lado, avós doces e
queridos que se foram, hoje cuidam e protegem não mais com suas próprias mãos, mas
com sua áurea acima dos filhos amados... Um filho levado pela arrogância da
vida, pela sedução ao descaso... Pessoas amadas e que foram para o céu viver
como anjos que nos guiam pelas lembranças de seus atos... Na outra face, a saudade
apertada que não se consola pela realidade dos sentimentos aquietados,
emudecidos e ensurdecidos diante da falta que fazem amores congelados... O
homem desejado ou a mulher almejada, trancafiados numa história inacabada e
incapaz de se permitir ao novo...
Enfurecidos e tristonhos nos
tornamos, quando somos feridos pela saudade dos que se foram e a presença viva
e perdida transformou-se em doces lembranças do companheirismo de um amigo, de
um conselho dos sábios e experientes, de um amor eternizado pela elevação à
morte... Saudade de um amor esquecido... Saudade das crianças que alegram cada
segundo através de um sorriso, arrancado da simplicidade de ser inocente e
ainda capaz de abraçar e beijar o próximo sem ter vergonha ou preconceito...
Valores que não deveriam ser perdidos e que certamente diferenciam uma
convivência de amizade, de confidencialidade e de estrutura pessoal... Uma estrutura
que se mantida, nos capacita a deixar o desejo da desistência, a qual é
precedida pela fraqueza diante da falta de vontade de viver...
Incrivelmente a saudade assola o
homem com uma simples imagem impressa, com uma história de um filme editado em
lembranças, com um lugar comum... Ou mesmo pelo mais sereno desconforto
provocado pela falta que nos faz...
Busca-se o amadurecimento, sob o
desconsolo da saudade e da dor provocada por tantas lembranças... Egoísmo
humano querer que o belo e a felicidade caminhem ao nosso lado para sempre... O
belo de hoje pode fortificar o ódio futuro e afundar o que nos torna feliz na
imensidade da solidão infinita... A saudade arrenda o espírito..., por isso se
torna tão difícil encontrar a lucidez para superá-la...
Curitiba, 05 de agosto de 2013...
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